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Da mistura e integração que fazem o Brasil

Monumento ao Sobá, Feira Central de Campo Grande (MS)

“Será que você conseguirá provar o Sobá?” Toda vez que eu falava para algum campo-grandense que eu sou “vegetariana com benefícios”, a pergunta era realizada. “Afinal, você não pode deixar de experimentar um dos pratos típicos da região”, vinha sempre o complemento. Considerado patrimônio imaterial da cidade, o mais interessante é que o sobá, como tantos outros prato “típicos” brasileiros, é uma adaptação de uma das tradições vindas do Japão, mais precisamente da província de Okinawa, arquipélago localizado na região Sul do país. Com direito a monumento na Feira Central de Campo Grande, o prato conta inclusive com um festival anual, sendo que a sexta edição foi realizada em agosto de 2012. (http://www.campograndenews.com.br/entretenimento/de-iguaria-a-patrimonio-imaterial-soba-deve-atrair-200-mil-pessoas-em-festival).

Sobá (com e sem carne), Campo Grande (MS)

A Feira Central é justamente um dos locais mais tradicionais para comer o Sobá. Além disso, tem artigos diversos (meio que de tudo um pouco) e muito artesanato local para ver, e comprar, claro. Entre eles, muitos artigos indígenas, como os belos espetos de cabelos, ou a N. Sra. Do Pantanal, claramente influência católica européia, adaptada para a cultura local. Mistura e integração que fazem o Mato Grosso do Sul e o Brasil.

Sopa Paraguaia

O Sobá de origem japonesa, a sopa paraguaia (que na verdade é uma torta salgada com milho e queijo), a pizza italiana em São Paulo, a feijoada de influência africana, a farinha de mandioca indígena e tantos outros. Influências de diferentes origens que formam não apenas na culinária brasileira, mas nossa cultura, personalidade e comportamento. Influências que muitas vezes se misturam, outras se integram. Bairros e regiões de colônias migratórias, como a comunidade alemã no sul do país, a comunidade libanesa, japonesa, italiana e, no final das contas, brasileira.

Misturas que fazem este nosso Brasil que abraça outras culturas. Lembro sempre da observação do amigo português, Antonio, ex-dono de albergues em Lisboa, que considerava curioso o vínculo que muitos brasileiros de origem brasileira sentiam por Portugal, pela história do Brasil, que recebia inúmeros brasileiros em seu ex-estabelecimento. Claro, porque Portugal, assim como tantos outros países e culturas, estão intrinsecamente ligados à nossa formação. Acredito que, se sentir brasileiro, é se sentir com todas essas influências. Como tantas vezes eu explicava sobre a “cara de brasileiro”, que na verdade podemos parecer de qualquer lugar dada a variedade étnica do nosso povo. Variedade misturada e integrada que é o Brasil, abençoadamente.

 

 

Índios no Brasil – um questionamento…

Museu do Índio, Campo Grande (MS)

 

Um dos pontos que me chamou muita atenção na visita ao Mato Grosso do Sul foi também a influência indígena em nossa formação cultural. Como muitas vezes falamos sobre a nossa relação com a água, comumente atribuída à relação dos índios com ela, apenas para citar um exemplo. E, principalmente, tenho me questionado cada vez sobre a nossa relação atual com os índios, denominação dada aos nativos, apesar de serem formados por diversos grupos diferentes.

A visita ao Museu do Índio (Museu das Culturas Dom Bosco) no Parque das Nações, por exemplo, incentiva esta reflexão. Conforme informação disposta na exposição, na época do descobrimento a população nativa girava em torno de 5 milhões (as informações em sites do assunto revela entre 1 a 11 milhões, um intervalo um pouco amplo, vamos combinar). De forma simplista classificamos como “índios”, sem levar em consideração a variedade lingüística e cultural dos diversos grupos. Ao lado da Mercado Municipal, o Mercadão, também está o “Mercado Indígena”, como fui apresentada, com produtos típicos e alguns itens que apenas podem ser comercializados por eles.

Tenho sido reticente em escrever algo aqui no blog, justamente por não conhecer o tema com tanta profundidade e posso, dessa maneira, escrever alguma coisa míope a respeito. Como também acredito que muitas vezes são algumas abordagens sobre essas questões. Ao mesmo tempo, considero fundamental falar e buscar entender melhor o assunto, e o que de fato é integração e preservação da cultura, ou o que é exclusão e impedimento de avanço. Respeito e convivência, de todos os lados. Eu, de fato, não sei.

Como está escrito no próprio site da Funai, “as populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada”, evidenciando a nossa ignorância no assunto, dado os extremos. E, afinal, qual é o limiar entre as ações que irão realmente promover a preservação da cultura e proteção dos índios, mas ao mesmo tempo permitir a integração real na sociedade? Difícil questão; resposta a ser construída.

Museu do Índio, Campo Grande (MS)

Para saber mais sobre o assunto:

http://www.museudoindio.org.br/template_01/default.asp?ID_S=33&ID_M=114

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/indios-politica-brasil-politicas-publicas-indigenistas-cnpi-550901.shtml

http://www.funai.gov.br/

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Também inseri um texto da Funai na íntegra sobre o assunto, apesar de ser apenas uma fonte (e um lado da história)… Certamente o tema é bem mais amplo.

Identidade e Diversidade, segundo Funai:

“As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem diretamente com os índios: as populações rurais.

Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de “ladrões”, “traiçoeiros”, “preguiçosos” e “beberrões”, enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.

Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.

Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes, como as consequências da poluição ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são eles.

Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação.

O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e linguística, estando entre as maiores do mundo. São cerca de 220 povos indígenas, mais de 80 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações objetivas. 180 línguas, pelo menos, são faladas pelos membros destas sociedades, que pertencem a mais de 30 famílias linguísticas diferentes.

No entanto, é importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, como a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto aconteceria mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana.

No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em várias sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais às dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem modernas tecnologias (como câmeras de vídeo, máquinas fotográficas e aparelhos de fax), não fazem com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.

A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não-indígenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriétnico, como é o caso do Brasil.

É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica específica de cada uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural, com as diferentes etnias.”

Fonte: Funai –www.funai.gov.br

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