É, não mudamos tanto assim! Essa acaba sendo sempre minha constatação e frase repetida a cada visita a museu com itens históricos. Muitos amigos e companheiros de museus me ouviram dizer isso. É, não mudamos tanto assim tampouco fomos e somos muitos diferentes entre povos. De objetos utilizados a crenças e questionamentos, existe uma similaridade crucial independente do tempo ou do local. Não é uma constatação nova, qualquer menção a pirâmide de Maslow e necessidades humanas ajuda nessa reflexão. Mas sempre é diferente quando você se dá conta de verdade.
As coisas mais simples às vezes são as que mais me chamam atenção. Copo, prato, utensílios de servir bebidas e comidas, colheres, mantos… as coisas tem o mesmo formato, na exposição de itens egípcios, romanos, medievais, indígenas, turcos, etc. Claro, com motivos, desenhos e materiais diferentes, mas basicamente o mesmo formato. E o melhor, com um pouco mais tecnologia, são basicamente os mesmos até hoje! É, não mudamos tanto assim.
Se os utensílios são os mesmos, a busca por beleza também. Sempre esses utensílios são decorados, conforme a “moda” de cada região e época. Mas a necessidade de design estava e continua lá. Mesmo os minimalistas hoje respondem com uma tendência diferente a mesma necessidade. É, não mudamos tanto assim.
Nos utensílios ou nas pessoas, a busca da beleza! Brincos, colares, mantos, cachecóis, etc. os exemplos são inúmeros, mas interessante como os formatos muitas vezes são parecidos. Colares, por exemplo, foram de penas, de pedras, de sementes, de metais… mas sempre há um exemplo de colar (meio óbvio eu comentar de colares, né?!). É, não mudamos tanto assim.
Beleza estética, beleza nos gestos e nas relações. Independente do tempo ou da região, sempre há uma referência ao sentimento e aos relacionamentos. O amor é parte de nós humanos, como busca, como desejo, como felicidade, como comportamento. É ato e é questionamento. É, não mudamos tanto assim.
Contávamos histórias nas paredes e continuamos contando histórias no Facebook (me lembrei muito agora e um roteiro de um grupo de projeto experimental de Relações Públicas que eu orientei com este tema…). Pensamos nas principais questões da vida e até hoje estamos citando pensadores gregos e romanos. Um amigo português Antonio, enquanto conversávamos sobre a herança romana em Nim na Croácia, me disse que num dos livros que leu sobre índios americanos (A Fala do Índio, quero ler!) muitos dos questionamentos e da “sabedoria” new age que tenta explicar as principais razões da vida já eram ditas pelos índios. É, não mudamos tanto assim.
O que acontece depois da morte? Até hoje há discussão sobre a resposta, mas a pergunta continua. Das criança de Llullaillaco em Salta na Argentina às múmias do Egito, não era o mesmo questionamento e a resposta pela crença de como se preparar para seja o que for que há depois? É, não mudamos tanto assim.
Se preparar para o depois e registrar o legado de quem se foi, as lápides e dizeres ainda são tão parecidos com os que faziam na Roma ou Grécia. É, não mudamos tanto assim.
O oculto, a magia, a espiritualidade, de formas diferentes, ainda está aí. Um pode acreditar que evoluímos, mas provavelmente está pensando no seu ponto de vista e crença e, como tal, o verdadeiro. Mas não foi sempre assim e agimos conforme aquilo que acreditamos, mesmo sem saber exatamente se é real, mas simplesmente por um exercício (saudável muitas vezes) de fé? É, não mudamos tanto assim.
Evoluímos em tecnologia, produzimos mais informações, e o conhecimento avança a cada dia. Mas no final do dia, estamos comendo com os mesmos pratos, buscando a beleza estética em nós mesmos e nas coisas, perguntando o sentido da vida, e tentando nos conectar (e justificar ou explicar) com aquilo que acreditamos. É, não mudamos tanto assim. Não há nada demais nisso, só acho importante refletir, afinal, o que significa evolução? Não tenho a resposta, mas tenho a pergunta e adoro refletir… é, eu também não mudei tanto assim. 😉