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Educação e gentileza, falta e excesso na relação social no Brasil

Educação: 1. processo que visa o desenvolvimento harmônico do ser humano nos seus aspetos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade. 2. processo de aquisição de conhecimentos e aptidões. 3. Instrução. 4. adoção de comportamentos e atitudes correspondentes aos usos socialmente tidos como corretos e adequados; cortesia; polidez.

Gentileza: 1. Qualidade do que ou de quem é gentil. 2. gesto ou comportamento que revela amabilidade; delicadeza. 3.simpatia. 4.elegância. 5.favor.

Dicionário Mobile da Língua Portuguesa. Porto Editora, 2011.

Bonito (MS).
Banco de Imagens da Região

Ao longo da viagem para fora do Brasil encontrei muitos brasileiros vivendo no exterior. Muitas vezes, nas conversas sobre as vantagens e desvantagens de morar em outros países e as comparações com o Brasil, a saudade da hospitalidade, carinho e calor do povo brasileiro sempre são mencionadas com lágrimas nos olhos e o tradicional “Ah, você sabe do que estou falando”.

Sabemos! Definitivamente, esbanjamos sorrisos e acolhimento. Aquelas conversas calorosas que conseguimos ter no ônibus, no caixa do supermercado, na fila do banco, na loja, em qualquer lugar. Sempre que algum estrangeiro me comentava sobre visitar o Brasil, eu incentivava. “Vai! A gente adora receber pessoas, o povo brasileiro é muito hospitaleiro, sempre que tem um ‘gringo’, todo mundo quer agradar”. Eu acho mesmo isso, e no melhor sentido. A gente gosta mesmo de receber bem as pessoas. No entanto, essa amabilidade não necessariamente significa respeito real ao coletivo. As pequenas “escapadelas” às regras de convivência, às vezes as mais banais, realmente é uma questão comportamental que prejudica a vida em muitos níveis.

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Eu não acredito em Coelhinho da Páscoa ou em Bom senso

O bom senso, ou senso comum, não existe. Esta é a minha constatação! Há muito tempo já penso nisso, sempre me vem à mente quando alguém me diz que em este ou aquele caso é preciso o tão aclamado “bom senso”. Há de se convir, se existem tantos casos problemáticos ou situações inconvenientes em que atribuímos à falta de noção, bom senso, senso comum ou seja lá que nome você quiser dá, é um sinal claro de que tal coisa talvez não exista tanto assim.

Pare uns segundos e reflita: na última semana quantas vezes você viu alguma coisa que era falta de bom senso? … estou te dando um tempinho… … … já achou, não é?! Acontece o tempo todo! Na minha viagem consigo pensar em uns vários exemplos, muito além do básico resultado das inúmeras diferenças culturais. Um dos mais engraçados foi a discussão de dois rapazes sobre o que era bom senso num hostel se você sabe que ronca. Um dizia que se você está num dormitório deve prever que possivelmente alguém vai roncar e conviver com isso, já o outro afirmava que seria bom senso do roncador pedir um quarto individual. Agora me diz, quem está errado? É uma questão de senso comum ou de opinião?!

A propósito, hostel é um prato cheio para discutir o que é bom senso. Fazer barulho à noite é um desrespeito, mas se você está no meio de um albergue da juventude com a proposta clara de “balada” vai esperar o quê?! Bom senso seria pesquisar bem o que se adéqua ao seu perfil. Me lembro do hostel em Berlim que eu adorei, Raise a Smile (www.raise-a-smile-hostel-berlin.com), um hostel tranqüilo que está completamente voltado a um projeto de educação na África e já deixa claro na descrição: aqui não é um hostel de festa. Conversando com um dos fundadores ele me disse o quanto considerava importante este tipo de descrição sincera “pois dessa forma conseguimos efetivamente atrair pessoas com a mesma sintonia”. Isso é bom senso! Mas quantas vezes para “vender” alguma coisa, pessoas supervalorizam características ou não são tão transparentes?

Eu sei que não tenho paciência para hostel muito balada e que adoro um ambiente mais familiar e local, por isso estou sempre mesclando Hostel, Hotel, Bed and Breakfast, Casa de amigos, Airbnb e ainda quero tentar o Couchsurfing. Enfim, mas este último vai precisar de muito bom senso, que eu ainda não sei exatamente o que é, nem se acredito nele. “Sonhos são como deuses, quando não se acreditam neles deixam de existir”, já diria Paulinho Moska. Assim acontece com o bom senso ou com o Coelhinho da Páscoa, que eu jurava ter visto quando era criança e ainda me lembro daquela sensação de sonho que é real (até hoje estou tentando entender porque minha mente infantil ainda acredita que viu o coelhinho que tinha, de fato, olhos vermelhos – risos).

Para nós, falantes da língua portuguesa, acho que ainda tem um peso maior. Não há uma tradução direta de bom senso para o inglês, sempre usado como “common sense”. Senso comum parece aquilo que toda gente sabe e percebe, e bom senso quando se faz o mínimo de crítica ou julgamento necessário para o bem geral. Neste sentido adoro o português de Portugal que diz “não percebi” ao invés de “não entendi” quando não se escuta muito bem o que o outro disse. Melhor, né, afinal, não é um problema de compreensão mais profunda, mas sim de percepção das palavras ou da sequencia lógica do que foi dito.

“E qual seria então a diferença entre senso comum ou conhecimento comum?” perguntou a inglesa/indiana Sat, uma das sócias do hostel em Zadar (www.thewildfighostel.com) em meio a uma das muitas conversas. Hummm, eu não sei. Após muitos e diversos debates sobre o tema, na linha da diferença entre o percebi e entendi, acredito que um está mais ligado ao comportamento e outro ao conhecimento. No entanto, há sempre o pressuposto perigoso de que todos já sabem e entendem sem qualquer evidência. O famoso “mas isso todo mundo sabe”… Será?! Quantas vezes na vida de comunicação não é preciso retomar e explicar o básico. Além do mais, “o óbvio precisa ser dito para nunca ser esquecido”. Não sei exatamente o autor da expressão original, mas as aulas na faculdade com a Marisa Bravi me marcaram.

Contar com o bom senso é o mesmo que contar com a sorte. Às vezes dá certo, mas nem sempre. “Por isso que deu errado, porque era preciso o senso comum e esta coisa não existe”. A frase virou uma espécie de mantra inevitável toda vez que alguém menciona o difamado “bom senso”. Aí já é tarde reclamar. Então, a partir de agora, quando alguém me falar de bom senso, acredito que vou adotar a seguinte pergunta: “Mas, afinal, o que é bom senso para você?!”. Afinal, já que este post é marcado por conhecimento popular (que no final das contas poderia ser chamado de bom senso), “o que é combinado não é caro!”

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Será que mudamos tanto assim?

É, não mudamos tanto assim! Essa acaba sendo sempre minha constatação e frase repetida a cada visita a museu com itens históricos. Muitos amigos e companheiros de museus me ouviram dizer isso. É, não mudamos tanto assim tampouco fomos e somos muitos diferentes entre povos. De objetos utilizados a crenças e questionamentos, existe uma similaridade crucial independente do tempo ou do local. Não é uma constatação nova, qualquer menção a pirâmide de Maslow e necessidades humanas ajuda nessa reflexão. Mas sempre é diferente quando você se dá conta de verdade.

As coisas mais simples às vezes são as que mais me chamam atenção. Copo, prato, utensílios de servir bebidas e comidas, colheres, mantos… as coisas tem o mesmo formato, na exposição de itens egípcios, romanos, medievais, indígenas, turcos, etc. Claro, com motivos, desenhos e materiais diferentes, mas basicamente o mesmo formato. E o melhor, com um pouco mais tecnologia, são basicamente os mesmos até hoje! É, não mudamos tanto assim.

Se os utensílios são os mesmos, a busca por beleza também. Sempre esses utensílios são decorados, conforme a “moda” de cada região e época. Mas a necessidade de design estava e continua lá. Mesmo os minimalistas hoje respondem com uma tendência diferente a mesma necessidade. É, não mudamos tanto assim.

Nos utensílios ou nas pessoas, a busca da beleza! Brincos, colares, mantos, cachecóis, etc. os exemplos são inúmeros, mas interessante como os formatos muitas vezes são parecidos. Colares, por exemplo, foram de penas, de pedras, de sementes, de metais… mas sempre há um exemplo de colar (meio óbvio eu comentar de colares, né?!). É, não mudamos tanto assim.

Beleza estética, beleza nos gestos e nas relações. Independente do tempo ou da região, sempre há uma referência ao sentimento e aos relacionamentos. O amor é parte de nós humanos, como busca, como desejo, como felicidade, como comportamento. É ato e é questionamento. É, não mudamos tanto assim.

Contávamos histórias nas paredes e continuamos contando histórias no Facebook (me lembrei muito agora e um roteiro de um grupo de projeto experimental de Relações Públicas que eu orientei com este tema…). Pensamos nas principais questões da vida e até hoje estamos citando pensadores gregos e romanos. Um amigo português Antonio, enquanto conversávamos sobre a herança romana em Nim na Croácia, me disse que num dos livros que leu sobre índios americanos (A Fala do Índio, quero ler!) muitos dos questionamentos e da “sabedoria” new age que tenta explicar as principais razões da vida já eram ditas pelos índios. É, não mudamos tanto assim.

O que acontece depois da morte? Até hoje há discussão sobre a resposta, mas a pergunta continua. Das criança de Llullaillaco em Salta na Argentina às múmias do Egito, não era o mesmo questionamento e a resposta pela crença de como se preparar para seja o que for que há depois? É, não mudamos tanto assim.

Se preparar para o depois e registrar o legado de quem se foi, as lápides e dizeres ainda são tão parecidos com os que faziam na Roma ou Grécia. É, não mudamos tanto assim.

O oculto, a magia, a espiritualidade, de formas diferentes, ainda está aí. Um pode acreditar que evoluímos, mas provavelmente está pensando no seu ponto de vista e crença e, como tal, o verdadeiro. Mas não foi sempre assim e agimos conforme aquilo que acreditamos, mesmo sem saber exatamente se é real, mas simplesmente por um exercício (saudável muitas vezes) de fé? É, não mudamos tanto assim.

Evoluímos em tecnologia, produzimos mais informações, e o conhecimento avança a cada dia. Mas no final do dia, estamos comendo com os mesmos pratos, buscando a beleza estética em nós mesmos e nas coisas, perguntando o sentido da vida, e tentando nos conectar (e justificar ou explicar) com aquilo que acreditamos. É, não mudamos tanto assim. Não há nada demais nisso, só acho importante refletir, afinal, o que significa evolução? Não tenho a resposta, mas tenho a pergunta e adoro refletir… é, eu também não mudei tanto assim. 😉

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Sempre inventando moda e arrumando o que fazer!

Correspondente internacional do blog La Moda Loka! A ideia surgiu meio sem querer no meio de uma conversa por skype com a divertidíssima concunhada e amiga Priscila Franco, editora do blog. No ar desde fevereiro, o site (www.lamodaloka.com.br) está crescendo em conteúdo e vale a visita para quem curte moda. Após o especial Europa que ela publicou em abril, pensei… hum, estou aqui mesmo, seria bem legal participar e olhar com atenção mais um item super importante de cultura: a moda. Minha responsabilidade: fotografar vitrines, estilos e coisas diferentes por aqui!

Não que eu entenda profissionalmente de moda. Eu admiro quem tem estilo, e acho interessante observar as nuances de similaridades e diferenças, e como a moda também diz muito do país e, por outro lado, da globalização. Por exemplo, echarpes fazem sucesso em todo o lugar, mas na Espanha são mais volumosos e coloridos, enquanto na França são mais encorpados. Eu não resisti e comprei dois novos! Ou a vitrine masculina com o manequim de casaco e bermuda só poderia ser na Alemanha.

Além disso, como conversei com a Priscila, fica interessante para complementar a visão profissional com o olhar curioso de uma consumidora regular no turismo de cotidiano.

O mais legal é que eu sempre estou arrumando o que fazer. Nisso, o blog Aqui ou Algum Lugar me completa, adoro pensar em temas, buscar fotos para ilustrar o que estou falando, observar cada detalhes, cada conversa com atenção para entender alguns significados que possam se transformar em textos, responder comentários… Falando nisso, parêntesis, estou com dificuldade de classificar este blog e peço ajuda. Embora seja claramente um blog de viagem, não é um relato de viagem. O que seria então? Ou talvez o melhor é ficar mesmo sem classificação?

Como sou voltada para ação e resultados, estou super feliz em agora ser blogueira do Aqui ou Algum Lugar e correspondente do La Moda Loka. Além de pitaqueira oficial para assuntos aleatórios de comunicação a vida cotidiana com meus amigos. Ah! E Viajante, uma atividade enriquecedora, mas que só os viajantes entendem… afinal, também cansa de vez em quando, apesar de todo o lado bom, que absolutamente compensa. Bora para o próximo destino, e para a próxima vitrine?!

Observações:

  • Para quem não sabe, concunhada é a relação promovida pelo cunhado. Ou seja, a irmã do meu cunhado (marido da minha irmã) é minha concunhada. Porém também poderia ser a namorada do irmão do meu namorado. Enfim, assim como tem primo de segundo grau, seria o cunhado ou cunhada de segundo grau. Pelo menos é isso que eu acho. Se alguém souber de algo diferente, por favor, fique à vontade para esclarecer! Conhecimento sempre bem-vindo!

Alguns posts do La Moda Loka:

http://lamodaloka.com.br/vitrines-parisienses/

http://lamodaloka.com.br/as-vitrines-de-estrasburgo/

http://lamodaloka.com.br/vitrines-francesas-lyon/

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Cultura: Língua, Música e Comida – Parte III

Você pode estar se perguntando… Vegetariana com benefícios, como ela vai explicar sobre a comida como terceiro elemento de demonstração de cultura? Sim, de fato não tenho experimentado de tudo, mas até agora também não passei perrengue. No entanto, estamos falando de comida como elemento de cultura, e cultura como identidade. Você já reparou que quando falamos de comida preferida, ou aquela que muitas vezes dá vontade de comer, sempre é aquela comida que você comia quando criança? Normalmente aquela comidinha com gosto de casa… E casa é onde crescemos e, neste caso, absolutamente influenciada pelo local onde vivemos.

Neste sentido, um dos exemplos emblemáticos para mim, eu conheci ainda no começo da viagem. O brasileiro João, hoje chefe de cozinha, mora há oito anos em Londres. Ele me explicou os diferentes papeis e níveis de chefes de cozinha, e muito sobre o cuidado com o prato e as diferentes combinações de molho e ingredientes que ele aprendeu em Londres. “Na Inglaterra, assim como na Europa, se dá muito valor ao prato, na combinação dos ingredientes, no visual e etc.”, explicou. “Muito diferente do Brasil, onde usamos, por exemplo, poucos tipos de temperos”. No entanto, ao perguntar em outra ocasião qual a sua comida favorita, sem hesitar ele me respondeu: “Ah! Comida brasileira! É isso que cozinho em casa num jantar para os amigos”, confessou.

É exatamente isso! A comida é cultura, não apenas porque é o que você experimenta em um país quando está viajando. É cultura porque é parte daquilo que você é, da sua história, dos seus hábitos, do seu gosto, daquilo que você dá valor. Como a brasileira Cristiana cozinha arroz e feijão para seu filho na Espanha (e provavelmente isso que fará parte da identidade dele, com uma mescla de muito jamon e churros com chocolate que comerá com seus amigos. Como a mexicana Adriana, morando na Holanda para seus estudos em medicina, que pediu ao pai muito doce e guloseimas com chili para matar as saudades de casa, até eu ganhei um de presente ;-). Como o brasileiro Fernando, que levou café Pilão e goiabada para Guiba e Karol. Anne e Bram, holandeses, me contam quando estou provando o queijo holandês (dividido em dois tipos, o novo e o velho) que era uma das coisas que mais sentiam falta durante a viagem por nove meses na América Latina. E assim por diante. Eu sinto falta de arroz… Vou comer um prato típico em Hamburgo, cidade portuária então é peixe, claro, e fica faltando um arrozinho.

Como vegetariana, acabo conhecendo algumas curiosidades diferentes, porque aí sim acaba conhecendo exatamente o que é típico. É comum buscar a versão vegetariana dos pratos tradicionais, assim como no Brasil os restaurantes vegetarianos fazem a feijoada versão soja e legumes. A propósito, super recomendo o Goa na Vila Madalena, saudades da comida de lá!

O que é típico na Alemanha? Os salsichões! Em Köln experimentei o salsichão vegetariano, sensacional! (sorry, estava sem a máquina para tirar fotos, mas existe). Ou no restaurante veggie Osho batatas e um bolo de quinua, com molho. Em Hamburgo, hambúrguer vegetariano com a típica salsa de queijo traduzida como “Dip”em inglês (vai entender!). Em Porto, o sanduíche francesinha versão vegetariana. As baguetes francesas nas suas versões com muito queijo ou completamente veggie com pepino, tomate e berinjela. E salve a cozinha italiana presente por todos os lados! Curioso foi achar um restaurante português e sentir gostinho de casa comendo pastel de Belém (risos).

Cultura: língua, música e comida! Falar mais de uma língua, ouvir músicas de todo o mundo, apreciar comidas diferentes. Elementos de demonstração de cultura, de diferenciação, mas não de exclusão. Ser global ao conhecer e admirar as diferentes expressões, interagir com elas e construir algo novo, que não é a soma, não é comparação, não é a uniformização, mas a interação e integração, com respeito e inclusão. No final das contas, ouvir música boliviana, comendo sushi, olhando para o rio Reno, conversando em inglês com suecos. Ou qualquer coisa parecida.

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Cultura: Língua, Música e Comida – Parte II

Música: segundo elemento para demonstração e interação cultural, como disse no post anterior – Cultura: Língua, Música e Comida I. Música típica, popular, da moda, ou interpretação de outros estilos, a música expressa emoções, sentimentos e pensamentos, logo, parte da cultura.

As músicas típicas de certa forma contam as histórias e o perfil de seu povo, como a brincadeira que já fizemos entre o fado e o flamenco. Mesmo para quem não gosta de samba, não há como negar que é resultado fundamental de nossa história de mescla e jeito de levar a vida. A França de Edit Piaf nos ajudou a ver o país como o vemos. Ou será o inverso? Para mim, França também de Georges Brassens e Jacques Brel que tive a felicidade de conhecer e ouvir algumas canções. Músicas tipicamente tradicionais ou versões da música típica, como o tango eletrônico, demonstração de renovação daquilo que é intrínseco ao país.

No entanto, não são apenas as típicas que são evidenciam culturas, mas as bandas e cantores locais atuais e de outros estilos. Sempre gostei de estudar línguas ouvindo as músicas para entender as expressões e como se falam das coisas pessoais e cotidianas. Ouvir música no rádio ou num jantar entre amigos, nada mais do que turismo de cotidiano. Estou colecionando nomes e estilos. Na Holanda me indicaram Anouk e Blof. Na Alemanha, conhecer Xavier Naidoo, Ich und Ich e Juli me ajudaram a ter conversas bem bacanas! Até não gostar de Rammstein também. 😉

Mas não é tão fácil assim conhecer músicas locais, afinal, na era da Globalização, cada vez mais se escutam as mesmas músicas. Tem uma vantagem, pois é possível interagir mais em alguns locais. Eu, por exemplo, estou sempre em busca de uma banda ao vivo de jazz, de rock antigo ou aquele estilo meio groove meio pop (estilo Eagle Eye Cherry, sabe?) que nunca sei dizer exatamente que o nome deste estilo de música. Bares com música ao vivo, para mim, são sempre boas opções, mesmo se estiver sozinha, porque, no mínimo, está vendo os músicos. Como na Alemanha, ao descobrir uma brasileira na platéia, o trio de jazz não economizou nas canções de Tom Jobim para minha alegria.

Além disso, ouvir uma banda de rock antigo (um dos meus estilos favoritos) na Espanha é bem diferente do que na França, ainda mais na Alemanha, mesmo que sejam as mesmas músicas. Na França não se dança, estavam todos sentados. Na Alemanha não tinha lugar para sentar, mas tampouco se dançava (só balançar o corpo ou a cabeça de um lado pro outro). Ah, a Espanha é latina, então se dança! 😉 Podem até ser as mesmas músicas, mas a interpretação e a energia são completamente distintas.

Como tudo na vida, vem o Dark Side! Das músicas apelativas do rap/pop americano ao sucesso estrondoso do hit “Ai se eu te pego”, muitas vezes você está sempre ouvindo as mesmas músicas onde quer que vá e pouco daquilo que diferencia cada localidade. O pior, sendo brasileira, é o “ah, essa você tem que dançar”… começou o hit, saída alternativa ao bar ou ao banheiro. Ah! Na Holanda tem duas versões do hit em holandês, uma mais fofa e romântica, outra levemente mais pesada que a brasileira (opostos bem ao estilo holandês). Me surpreendi em Amsterdam, numa das tendas da feira de flores, sem qualquer brasileiro no ambiente, ouvir “chorando se foi quem um dia só me fez choraaaaaaar”. Sorrindo, me fui!

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Cada um na sua, porque sempre há algo em comum.

O sorriso simpático do atendente no balcão de informações na estação de trem em Rotterdam denuncia: Você está na Holanda! Depois de chegar diretamente de Paris, com o típico – e até charmoso – mau-humor francês, a leveza e simpatia holandesas ficam ainda mais evidentes.

Não conhecia muito sobre a Holanda e nem sabia muito bem o que esperar. Minhas referências até então sempre foram positivas, principalmente pelo super simpático e tranqüilo casal de amigos holandeses, Anne e Bram, que fiz na boa temporada vivida na Argentina. Ele historiador, ela socióloga, sempre tivemos bons papos em Buenos Aires. Logo que cheguei em Eindhoven também fui contagiada pela visão e carinho pela Holanda de Guiba, que mora há mais de 18 anos no país, e Fernando, em seu segundo sabático vivendo e observando atentamente a cultura e as pessoas.

Das calças super coloridas e cortes diferentes de cabelo aos estilos diversificados de comportamento e valores pessoais, minha impressão é o respeito às escolhas individuais como um dos principais lemas no país. Pensei muito sobre isso, afinal, escutei mais de três vezes a mesma pergunta e vinda de brasileiros, holandeses, alemão e até egípcio: o que você acha/achou da Holanda? Minha conclusão se resume em três palavras: autenticidade, tolerância e abertura.

Autenticidade que permite diversidade de estilos e valores com veracidade de intenção. Conheci pessoas muito diferentes umas das outras, de jeito, cabeça e estilo, mas com uma diretriz comum essencial: eu faço as minhas escolhas. Ao mesmo tempo, dentro dos limites do que apenas tem relação com a sua própria vida. Exemplos banais como dançar do jeito que quiser, mas procurar cortar a grama no mesmo dia e momento que seu vizinho para que todos façam barulho de uma só vez sem incomodar os outros, como me contou Karol que também vive na Holanda.

No entanto, para que a autenticidade seja realmente autêntica (risos), no coletivo é importante ter tolerância. Não no sentido de agüentar algo que seja chato, mas de aceitar a diferença em todos os sentidos. Seria o equivalente à liberdade com responsabilidade da pessoa, mas no convívio em grupo e em sociedade. Nem todo mundo na Holanda tem os mesmos hábitos e preferências, como o tolo estereótipo ou a visão superficial distanciada podem sugerir (à propósito, como em qualquer lugar do planeta, apenas mais evidente aqui em minha opinião). Mas as pessoas toleram (ou buscam tolerar), do certinho ao open-minded.

Também há de se ter abertura para ser autêntico e tolerar, para dar e receber. Comportamento transmitido na simpatia, bom-humor e naturalidade que pude perceber em todas as minhas interações aqui. Estar aberto é simplesmente aceitar, atitude transparente pelo olhar, na Holanda ou em qualquer lugar no mundo. Os olhos e o sorriso dizem muito mais sobre qualquer um do que muito discurso.

Autenticidade, tolerância e abertura: valores que reforço após meu contato com a Holanda. Tomara consigamos encontrar mais disso em todo o mundo.

 

 

Observações:

  • Um exemplo do típico mau-humor francês. Conversando com um francês em um café sobre o filme Amelie Poulin (que eu adoro) ouço o seguinte comentário: tenho um amigo que odeia este filme? Pergunto o porquê. “Ele diz que o filme é muito bonitinho e com mensagens positivas, mas a vida não é assim”. “Bom, ele é francês, certo? Então está explicado. Eu sou brasileira 100%”, respondo. Até o francês riu.
  • O Fernando ficou mais de um mês em Eindhoven, com uma outra visão do país. Ele registrou bastante da sua percepção no seu blog, que vale uma visita! www.fernandosalgado.com.br. Eu particularmente gosto bem da reflexão sobre cada realidade (texto de 27/04), pois afinal vemos o mundo com nossos olhos, que sempre vão direcionar ou interpretar de maneira única cada realidade. Enfim, vale conhecer um pouco mais da Holanda “dele” também! 😉
  • No mesmo momento que estava escrevendo este texto, me deparei com o texto do blog Sobre a Vida do meu amigo Frederico Mattos sobre “o que os outros vão pensar” (http://www.sobreavida.com.br/2012/05/03/o-que-os-outros-vao-pensar/). Sincronicidade ou coincidência, não pude deixar de fazer o link. Afinal, nos preocupamos com o que outro vai pensar, porque já não gostamos do que estamos pensando. E, pensando bem como holandês, cada um vive a sua como quiser desde que não invada o espaço do outro. De acordo?
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Vegetariana com benefícios / Vegetarian with benefits

A definição não poderia ser melhor e mais engraçada. Afinal, é realmente complicado dizer que você é uma “peixetariana”. Na maioria dos locais é mais fácil dizer que se é vegetariano, ainda mais quando você não sabe a língua. Mas aí alguém oferece uma opção com peixe ou frutos do mar… hummmm. Como eu sempre digo, não como nada que andou ou voou, só o que nadou!

A expressão “vegetarian with benefits”, espontaneamente dita por Billy, querido amigo canadense, ainda em Lisboa, eu amei e repito agora todo o momento. No excelente jantar oferecido no hostel, sempre pedia a opção vegetariana frente ao frango com piri ou massa com carne. Porém, quando era bacalhau, adeus opção vegetariana. Quem estava comigo já há alguns dias estranhou, “ué, você não é vegetariana?”. “Na verdade eu como peixe”, disse. “Sim, ela é vegetariana, mas vegetariana com benefícios”, afirmou Billy arrancando risadas altas de todos ao redor.

Vegetariana com benefícios. E bota benefício nisso! Até o momento marcado pelos deliciosos bacalhaus, paellas, cassoulet, fondue, salmão e tudo o mais que vem do rio ou do mar em Portugal, Espanha e França! Sem contar os incríveis queijos franceses… Bom, agora não sei o que me espera nos próximos países… Na dúvida, eu pergunto: What is vegetarian? And vegetarian with benefits?


  • Cenas engraçadas já vividas por mim no mundo vegetariano ou peixetariano:
  • Restaurante da empresa, opção vegetariana: torta de peito de peru. Deixa eu te avisar, vegetariano é uma coisa, light é outra. Vegetariano não come carne, mas pode ser “gordo”.
  • “Ah, você é vegetariana? Mas nem um franguinho grelhado?”. De novo, não confunda vegetariano com light ou gente de regime.
  • Minha eterna dúvida, peixe é carne? Em minha opinião sim.
  • “Por que você parou de comer carne?”. No meu caso é simples, não gosto. Assim como não gosto de sorvete e pipoca (sei, é estranho!). Mas porque quem não come carne tem que explicar e quem come não? Na Índia ninguém deve perguntar isso…
  • “Mas você não tem dó dos peixes?”. A expressão usada ultimamente para quem come peixe acho que é piscitariano (ou piscitarian, em inglês)
  • O mais incongruente foi quando tinha um carro com banco de couro. Ah, não mata para comer, mas mata para vestir ou sentar? By the way, os vegetarianos de plantão buscam sapatos de couro sintético ou ecológico?

Dica de hospedagem: Em Lisboa definitivamente o Living Lounge Hostel. De longe o melhor de todos, e na minha definição um “hostel boutique”, super recomendado! Fiquei em quarto privado e fiz excelentes amigos lá.

Em algumas cidades estou ficando em casa de pessoas, pelo airbnb. Também só tenho experiências positivas, e você tem a oportunidade de conhecer melhor a cultura, a base do turismo de cotidiano. Exemplo mais diferente foi ficar num apartamento em Paris onde o banheiro (vaso e chuveiro) era depois da cozinha, mas não tinha pia, que ficava no quarto. Falando em comida, o pior é imaginar alguém fazer um lanchinho no caminho sem ter lavado as mãos…

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Símbolos, situações e rituais

Presenciar os preparativos para a Semana Santa em Sevilha; me emocionar, mesmo de longe, com a formatura dos meus ex-alunos; saber do casamento na praia de uma pessoa muito querida (infelizmente não estarei presente); ver crianças e adultos levando seus ramos para as igrejas no domingo de ramos. Situações aparentemente sem nada em comum, porém que evidenciam a nossa necessidade de ter rituais (ou ritos).

Rituais de passagem de ciclo, de marcos para momentos da vida, de celebração, de reafirmação de valores. Viver é uma eterna busca de significado e, de certa forma, precisamos criar maneiras de criar evidencias e expressar de alguma maneira aquilo que acreditamos, que construímos e o resultado de nossas escolhas.

Podem ser rituais que fazemos sozinhos, aqueles que criamos e de certa maneira tem significado somente para nós mesmo, e nem faria sentido contar para alguém. Sou só eu que tenho esta loucura ou todo mundo faz esse tipo de coisa? Aquela famosa lista de final de ano é um bom exemplo.

Rituais também aproximam as pessoas, amigos e família. Nisso tem uma curiosidade que eu sempre comento sobre a minha família. Dia dos Pais e das Mães, Aniversários, Despedidas… normalmente as pessoas fazem um almoço, certo? Não sei o porquê na minha família fazemos um café da tarde. Tenho certeza de que um dos motivos é porque amamos pão e café. Além disso, facilita para as irmãs casadas, pois podem freqüentar os dois sem ter que fazer escolhas. (risos)

Também me emocionei com a devoção de Carlos, costalero da procissão em Sevilla (aquelas pessoas que literalmente carregam os pasos, as plataformas onde ficam os santos). Em mais uma das descobertas do turismo de cotidiano, conheci Jose, amigo dos irmãos Carlos, Mariano e Esperanza, e pude presenciar a cerimônia na Igreja de Burgos quando a imagem de Jesus Cristo é colocada no paso. Mariano gentilmente me explicou todo o ritual e seus significados, que pude sentir nos olhos de muitos dos participantes.

A Semana Santa é um ritual gigantesco em Portugal, Espanha e Itália e, acredito, um momento muito importante para as pessoas que crêem e seguem. Muito bonito, como os rituais de todas as religiões e seus significados de amor, paz e caridade. Como todos os diversos rituais que nos ajudam a expressar os significados que damos para nossas próprias vidas.

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